História


Preso pela ditadura em 10 de outubro de 1973, presidente da UNE nunca mais foi encontrado. Representante dos estudantes e da luta pela liberdade durante o regime, Honestino é lembrado hoje, como um símbolo da juventude.


HonestinoNatural de Itaberaí, Goiás e aluno do curso de Geologia da Universidade de Brasília (UNB), Honestino foi preso em 10 de Outubro de 1973 pela ditadura militar e nunca mais foi visto. O estudante, que era perseguido pelo regime, já tinha sido preso outras vezes e foi um dos responsáveis pela sobrevivência do movimento estudantil e da luta pela liberdade nas décadas de chumbo.

Honestino Guimarães foi líder desde os tempos do ensino secundarista. No início da década de 60, sua escola, a “Elefante Branco”, levava o apelido de “Elefante Vermelho”, tamanha era a mobilização política de seus alunos e professores. Durante os governos Jânio Quadros e João Goulart, Honestino foi um jovem que presenciou e participou de manifestações e embates dos estudantes.

Em 1964, durante o golpe militar, Honestino estava cursando o terceiro ano do Colégio Integrado de Ensino Médio, de Brasília. Ao mesmo tempo em que os tanques de guerra chegaram ao Planalto, as entidades estudantis foram desmontadas e Honestino começou sua militância na Ação Popular (AP).

Como estudante universitário, Honestino se tornou uma das maiores lideranças nacionais, não permitindo que o regime autoritário dos militares dissolvesse por completo o movimento estudantil. Preso algumas vezes por organizar pichações, protestos e passeatas, Honestino Guimarães se tornou um jovem incômodo para a ditadura, atuando com bravura no Planalto Central.

A UNB vivia tempos de tensão, com repressão e censura às atividades universitárias. Nesta época, Honestino Guimarães era o principal interesse dos militares. Foi assim que, em 29 de agosto de 1968, a universidade foi violentamente invadida pelas tropas da ditadura. Honestino Guimarães foi preso, e afastado da instituição. Após a libertação, ele assume a presidência da UNE, em 1969, a entidade já se encontrava completamente na ilegalidade e muitos dos seus militantes ligados à luta armada.

Honestino Guimarães segurou a UNE e o movimento estudantil, não deixando a repressão acabar com os estudantes. Continuou coordenando encontros estudantis e lutando contra o regime militar até ser preso em outubro de 1973, no Rio de Janeiro, na época, tinha 26 anos. O estudante, que nunca mais foi visto após essa data, deixava uma filha pequena e a presidência de um movimento que, mesmo longe dos holofotes, lutava incessantemente pela liberdade do povo brasileiro.

Em 1978 estudantes de arquitetura convocam o Congresso da Reconstrução da UNE – o 31º da entidade, que aconteceu, em Salvador. Este é também o ano da revogação do AI-5. “No Congresso, como era costume o comparecimento do presidente que deixa o cargo, eles reservam uma cadeira vazia, e colocam uma grande bandeira com o rosto de Honestino Guimarães, um ato simbólico e uma homenagem ao ex-presidente assassinado”, conta Menegozzo. O Congresso marcou a resistência e os novos tempos que estavam chegando. No fim dos anos 70 havia uma forte base para reconstrução da UNE na legalidade. Esses novos tempos trouxeram novas questões, uma outra parte da história.

Sua morte só foi de fato reconhecida em 1996, com a declaração oficial de óbito e a homenagem de imortalização pela Universidade de Brasília. Hoje, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UNB leva o nome de Honestino Guimarães, um cidadão comum, de origem humilde, que morreu durante a juventude, mas que, em vida, teve a clara certeza de que era jovem.

Como Honestino mesmo disse: “Podem nos prender, podem nos matar, mas um dia voltaremos, e seremos milhões…”

2 comentários em “História

  1. Uma história de lutas, de conquistas … em um momento negro da nossa história. Homenagem merecida prestada pelo DCE da UNB, mas me pergunto: Por que no ES? Um estado com uma mobilização estudantil pífia e incomodamente mal organizada; com coletivos ególatras que acreditam “possuir a verdade” e se fecham para discussões que não atraiam a atenção para interesses próprios. Que usam as massas e manobram as opiniões, amparados por partidos tido “políticos”; que se escondem atrás de máscaras e não aprendem com a história. O depoimento acima mostra abnegação em prol da segurança de um companheiro de lutas.
    Você, estudante, militante, político, sabe o que é isto?
    Respeito a homenagem e a figura histórica, mas não acredito que o Centro Acadêmico de Administração esteja em consonância com o homenageado.

  2. Uma noite de 1969, Honestino veio à minha casa para se despedir do professor que tantas lutas políticas travamos em conjunto, na UNB. Eu morava com minha família num apartamento da Colina e, sabendo que ele era procurado pelo comando da PM do campus, lhe ofereci abrigo na minha casa, onde ele podia ficar clandestinamente escondido. Ele recusou amavelmente alegando que isso podia comprometer minha segurança. Foi embora e nunca mais o vi.
    Lembro dele como grande companheiro político e de resistência à ditadura militar que tinha invadido o campus da UNB.
    Miguel Lunetta, físico, professor da UNB de 1966 até 1969, quando foi demitido pelo reitor à pedido do governo militar.

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